O projecto de ensino artístico de Belgais na escola do 1º ciclo da Mata, em Castelo Branco, criado pela pianista Maria João Pires, "vai fechar devido a um arresto de bens e à falta de apoios", disse, esta segunda-feira, à Agência Lusa, Joana Pires, filha da pianista e responsável pelo Centro de Estudo das Artes de Belgais. Após o encerramento da escola e do Coro Infantil, "não deve restar nada do projecto de Belgais iniciado pela minha mãe".
Joana Pires revelou que os subsídios do Ministério da Educação (única fonte de financiamento), bem como o mobiliário e instrumentos da escola "estão arrestados. Parece-nos ser uma acção movida por quatro ex-funcionários", despedidos a meio do ano, e que, de acordo com Joana Pires, discordam das indemnizações que lhes foram pagas. O valor do arresto ronda "os 78 mil euros".
"Despedimos funcionários para não termos que declarar insolvência a meio do ano. Perdemos patrocinadores e donativos e só lhes podíamos pagar o que o Ministério da Educação nos dava. Ficámos sem o resto do dinheiro que recebíamos", fruto da crise financeira, justificou.
A Escola da Mata, perto de Castelo Branco, é frequentada por 40 alunos dos quatro primeiros anos do ensino básico, com os quais são desenvolvidas actividades artísticas e culturais no dia-a-dia.
O Ministério da Educação atribui anualmente 170 mil euros à Associação de Belgais para desenvolver o projecto escolar, referiu. Aquela responsável lamenta a falta de apoio na situação actual da Câmara de Castelo Branco, a cujo presidente pediu "apoio moral e uma garantia bancária para desbloquear o problema, negociada da forma que ele quisesse".
"Mas o presidente foi gelado e disse que não tinha nada a ver com o assunto", descreveu. "Não somos bem-vindos aqui", referiu.
A Lusa tentou contactar o presidente da Câmara de Castelo Branco, mas tal não foi possível. O Ministério da Educação remeteu eventual comentário para mais tarde.
Ver uma escola de música fechar é sempre mau. É um retrocesso cultural que devia indignar todos.
ResponderExcluirNo entanto, escolas de música pelo país há muitas e a desenvolver um trabalho excepcional. Muitas delas com projectos pedagógicos com resultados bem mais satisfatórios e eficazes que Belgais (não o pondo em causa) e lutam diariamente pela sobrevivência sem apoios de câmaras municipais ou do governo.
Nunca percebi as razões que levaram a que Belgais gozasse de condições excepcionais face às outras escolas no que diz respeito aos apoios do governo (até da presidência da república). É certo que o estatuto da Maria João Pires torna mais fácil "chegar lá" mas a preocupação cultural e pedagógica do governo, no meu entender, devia ser equitativa ao nível de todo o país e relativamente a este projecto não foi.
Há formas desta escola ser apoiada pelo ministério em igualdade de circunstâncias a todas as outras escolas que gozam desse apoio. Chama-se "contrato de patrocínio". Este é um contrato que se realiza com o Ministério da Educação através das Direcções Regionais e que, mediante algumas inevitáveis regras, prevê o apoio às escolas de música.
As situações excepcionais e de "valor pedagógico superior", que à primeira vista não se encaixam neste contrato, deviam analisar melhor e procurar adaptar alguns aspectos a fim de estarem em igualdade de circunstância com as deszenas de outras escolas que já são abrangidas.
Por experiência garanto que há muitas mais escolas do que se imagina a desenvolver um trabalho pedagógico inovador e de "valor pedagógico superior" do que o discurso de exclusividade de Belgais pretende demonstrar.
Qualquer escola de música da rede nacional de escolas oficiais da dimensão de Belgais que tivesse o apoio que eles tinham faria, sem qualquer dúvida, um trabalho tão bom ou melhor que Belgais. Que direito tem então Belgais de ser diferente?
Se calhar, em vez de se discutir Belgais deviamos estar a discutir a situação, em geral, do financiamento às escolas.