quinta-feira, 14 de maio de 2009

Moçambicanos com complexo de inferioridade cultural?

Maputo, 14 Mai (Lusa) - O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, exortou hoje à valorização da cultura moçambicana e atribuiu responsabilidades à dominação estrangeira por supostamente inculcar nos moçambicanos o complexo de inferioridade sobre a sua cultura.

"Ser promotor e guardião da cultura moçambicana não é e nem deve ser sinónimo de uma vida rodeada de pobreza, nas suas diferentes manifestações", disse Armando Guebuza, na abertura da segunda conferência nacional sobre a Cultura, hoje em Maputo.

O chefe de Estado moçambicano afirmou que a dominação estrangeira não se apropriou apenas dos recursos nacionais, mas das múltiplas riquezas existentes no país, inculcando o complexo de inferioridade sobre a cultura moçambicana.

"Ela (a dominação portuguesa) procurou inculcar-nos o complexo de inferioridade sobre a nossa cultura, incluindo sobre os nossos mitos, lendas, instituições, práticas e tradições culturais", tendo para o efeito concebido políticas, engendrado estratégias e criado condições para se propalar a ideia de "superioridade da cultura do colonizador".

E neste processo, disse, "as mentes foram escolhidas como o principal campo de batalha" e "os que tinham acesso à escola, uma minoria evidentemente, não só não aprendiam a sua história, geografia e línguas como também se lhes induzia a atitude de afastamento do seu povo como forma de exibição dos seus conhecimentos e da sua erudição".

"As mentes da grande maioria, que não tinha acesso à escola, eram alcançadas através da onomástica portuguesa, isto é, o processo de atribuição de nomes às pessoas e localidades", disse Armando Guebuza.

O Presidente da República justificou: "mesmo quando excluídos do sistema de educação esses nossos irmãos tinham um nome não africano, residiam numa rua ou vila com nome estrangeiro ou pagavam imposto nessa rua ou vila".

Armando Guebuza afirmou terem sido estes os motivos que levaram à guerra de "libertação da mente do moçambicano".

"Foi fazendo uma análise correcta destas políticas e estratégias de dominação estrangeira que concluímos que o nosso movimento nacionalista deveria assumir a libertação da mente do moçambicano, o produtor e, ao mesmo tempo, produto da nossa cultura, como uma grande prioridade", disse.

"Sabíamos que desse processo de libertação das mentes brotaria a nossa auto-estima, emergiria em cada um de nós a consciência de moçambicanidade, estimularia o orgulho pela riqueza da nossa diversidade cultural e configuraria a pátria moçambicana", afirmou.

Discursando hoje sobre a "Construção da moçambicanidade através das artes e cultura", no decurso da segunda conferência nacional sobre a cultura, Marcelino dos Santos, histórico da FRELIMO, partido no poder em Moçambique, afirmou que "o ódio ao crime é cultura dos povos que buscam paz, liberdade e desenvolvimento", referindo-se à luta contra a imposição cultural portuguesa.

Maputo acolhe de hoje até sábado a segunda conferência nacional sobre a cultura, que pretende encontrar respostas aos vários desafios (actuais e futuros) da cultura moçambicana e identificar formas de preservação e promoção dos valores nacionais.

MMT.

Lusa/Fim


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