Portugal sem representante oficial para a Bienal de Veneza a seis meses da inauguração
A seis meses da inauguração da Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Veneza, Portugal não tem ainda oficializado o nome do artista que assegurará a representação nacional naquele que é o mais importante evento do género no mundo. Este é um atraso maior do que os verificados mesmo em edições particularmente complicadas e polémicas, como as de 2003 e 2005.
Jorge Barreto Xavier, à frente da Direcção-Geral das Artes (DGA, a entidade responsável pela deslocação portuguesa à bienal), continua a não comentar o atraso. "Teremos a escolha em breve", escusando-se, porém, a avançar com uma data para o anúncio de equipas, projectos e orçamentos. "Não me vou comprometer com timings", afirmou.
Barreto Xavier não comenta também informações de que o inesperado convite dirigido ao cineasta Pedro Costa, com quem a DGA esteve em negociações directas até há pouco tempo, possa ter caído por terra nos últimos dias, enredado em problemas de bastidores. Mas, a confirmar-se o afastamento do cineasta - que ontem se manteve incontactável - o problema agudiza-se: torna-se necessário recomeçar o processo com uma margem de manobra que é já apertadíssima, e em condições que no passado implicaram custos elevados.
Em 2003, com o escultor Pedro Cabrita Reis como representante oficial, os sinais de alarme tocaram quando a quatro meses da inauguração da bienal - 7 de Junho a 22 de Novembro - se soube que Portugal não tinha assinado os contratos de aluguer de espaço expositivo, equipa de montagem ou divulgação, tendo ainda, também por falta de assinatura de contratos, perdido os apartamentos para a comitiva nacional.
Nesse ano o então ministro da Cultura Pedro Roseta acusou o agora extinto Instituto de Arte Contemporânea de irregularidades de gestão, chamando a si responsabilidades directas. Já em 2005 a polémica voltou a estalar quando, com Helena Almeida como artista, Maria João Bustorff repetiu a estratégia do seu antecessor e mergulhou a questão no silêncio durante meses. Um silêncio que durou até à tomada de posse da sua sucessora, Isabel Pires de Lima, quando se soube que o orçamento para Veneza seria de 320 mil euros (menos de metade do orçamento de 2003) e quando se soube também que a exposição portuguesa ficaria confinada a um pequeno edifício de 120 metros quadrados em três andares, dado que o espaço inicialmente escolhido estava perdido.
Em 2009, o espaço não é uma questão: o Fondaco Marcello, um edifício de 360 metros quadrados, localizado entre as pontes de Academia e Rialto, foi contratualizado em 2007 até ao final do próximo ano. Mas há todas as outras questões, nomeadamente a da elaboração de um projecto artístico - Pedro Cabrita Reis estava a trabalhar no seu projecto a um ano da mostra e Helena Almeida estava apontada como representante a oito meses da inauguração.
Por outro lado, as negociações da DGA com Pedro Costa vieram evidenciar o que a generalidade dos agentes do meio considera uma involução na estratégia para Veneza: ao contrário de países onde um comissário é escolhido por concurso, cabendo-lhe depois a escolha de um artista, em Portugal, desta vez, a questão parece estar directamente nas mãos do Estado.
A Direcção-
-Geral das Artes não comenta a hipótese de Pedro Costa não representar Portugal em Veneza
(in_público 03/12/2008)
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