Em Setembro de 2005, o país foi surpreendido com a descoberta de um valioso tesouro na freguesia alentejana de Baleizão. Um agricultor e um pedreiro, residentes locais e habituais prospectores de achados arqueológicos, tinham encontrado 31 artefactos ou fragmentos em ouro e bronze datados de há três mil anos, na Idade do Bronze. Desde então, o "Tesouro de Baleizão" entrou no limbo, apesar do Instituto do Património Arqueológico (IPA), entretanto extinto, ter garantido, nesse mesmo ano, ao presidente da Câmara de Beja, Francisco Santos, que enviaria rapidamente para o local da descoberta quatro arqueólogos, para fazerem a contextualização do tesouro.
"Ainda hoje estou à espera que eles apareçam", critica o autarca, a quem a população de Baleizão já pediu esclarecimentos e propôs a instalação de um museu na freguesia para receber o "tesouro" e outros achados arqueológicos que entretanto várias pessoas vão recolhendo e mantendo guardados nas suas casas.
A surpreendente descoberta - revelada pelo PÚBLICO (edição de 15/04/05) - foi classificada na circunstância por Raquel Vilaça, professora da Universidade de Coimbra, como "um conjunto notável", sobretudo por as peças terem sido encontradas "todas juntas, num espaço circunscrito". Num documento que elaborou com a arqueóloga Conceição Lopes, com o título O Tesouro de Baleizão, descreve os achados como "um excepcional depósito bimetálico muito raro na Europa. O valor do espólio reside na colecção toda e nas circunstâncias que o revelaram", de tal forma que o achado disperso "nunca teria existido", concluem as investigadoras.
Intervenção do tribunal
Ainda o pó da escavação que conduziu à valiosa descoberta não tinha assentado, instalou-se a polémica à volta da aquisição do tesouro pelo Museu Nacional de Arqueologia, por 17.400 euros. Esgrimiram-se argumentos pró e contra e o problema acabou em tribunal, através de uma acção interposta pelo proprietário do terreno onde foi descoberto o tesouro, que reclamou parte do valor do espólio descoberto, uma exigência que acabou por não ter acolhimento na instância judicial, que mandou arquivar o processo.
No local onde foi descoberto o tesouro, prevalece apenas um quadrado de terra escavado, com dois metros de lado. José Ambrósio, morador em Baleizão, questiona o modo como foi encontrado o pote de barro com o tesouro no alto de uma pequena elevação de terreno rodeada de olival. São visíveis pedaços de material em argila, provavelmente restos de telhas ou de tijolos, a cerca de dois quilómetros do troço mais estreito do rio Guadiana.
"Para aqui está prevista a plantação de um olival intensivo", alerta José Ambrósio, propósito que é confirmado por José Castelo Branco, que adquiriu o terreno, com cerca de 200 hectares, há um ano. Do famoso achado arqueológico, considerado pelas peritas como "uma das melhores colecções" do Museu Nacional de Arqueologia, conhece pouco, e nem sabia que tinha sido descoberto no local onde se habituou a ver da casa onde vive "veículos todo-o-terreno a cirandar".
Colocado perante a dimensão e o valor do espólio descoberto, o empresário diz estar disposto a rever o projecto de plantação de olival. "Temos interesse em preservar o espaço."
Reagindo à situação de impasse na pesquisa arqueológica do local onde foi identificado o tesouro, o vice--presidente do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), João Pedro da Cunha Ribeiro, reconhece que o processo foi "pouco agradável" para a arqueologia portuguesa, frisando que a instituição de que é um dos responsáveis "não deu continuidade aos compromissos assumidos com a Câmara Municipal de Beja".
Apesar dos contratempos, considera encerrada "toda a conflitualidade" que acompanhou a descoberta, cujo valor científico considera "inquestionável", mas frisando que a solução para a salvaguarda do património "passa por encontrar com a Câmara de Beja a melhor forma de o acautelar", conclui o vice-presidente do Igespar.
(in_Público 07/04/2009)
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