O 28º Fazer a Festa - Festival Internacional de Teatro vai realizar-se na Maia e não no Porto, em protesto pela retirada de financiamento da Câmara do Porto um mês antes do evento, anunciou hoje o Teatro Art'Imagem.
Em conferência de imprensa, o director do Art'Imagem, José Leitão, acusou a autarquia de «faltar à palavra dada», ao ter comunicado em 25 de Março que, devido a «cortes orçamentais», já não podia dar o prometido apoio financeiro de 15 mil euros à edição deste ano do festival, que começa a 25 de Abril.«Sentimo-nos um pouco injustiçados relativamente aos outros festivais», afirmou José Leitão, salientando que o responsável da Porto Lazer que transmitiu a decisão, Ricardo Almeida, disse que achava que o apoio prometido (igual ao de 2008) era merecido, mas estava a «cumprir ordens superiores».
Segundo José Leitão, Ricardo Almeida comunicou na mesma reunião que os restantes festivais internacionais de teatro do Porto, de Expressão Ibérica (FITEI) e de Marionetas, iriam receber cerca de metade do apoio prometido, mas o mesmo critério não se aplicaria ao Fazer a Festa, que apenas poderia contar com apoio «em espécie».
«Há uma barreira no cimo da pirâmide, que, pelos vistos, é o nosso presidente. Pelos vistos, o nosso presidente gosta de dizer que é contra a cultura. Suponho que será isso. É a marca diferente deste executivo», frisou, recordando que há eleições autárquicas este ano.
José Leitão admitiu que a retirada de apoio esteja relacionada com a coincidência de ter sido noticiado em 20 de Março que quatro dias depois iria começar o julgamento de uma acção interposta pelo Teatro Art'Imagem em 2006 contra a Câmara do Porto, apesar de Ricardo Almeida ter negado qualquer relação entre os dois factos.
Na acção, cujo julgamento foi adiado para sexta-feira no Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, o Art'Imagem acusa a autarquia de ter imposto uma «cláusula de vassalagem» como condição para assinar o protocolo de apoio financeiro ao festival. «Isto não é política. É pulhetice», frisou José Leitão, criticando a Câmara do Porto por ter recusado a resolução extrajudicial do conflito referente ao festival de 2006.
Após mais de 15 anos consecutivos no Palácio de Cristal, no Porto, o terceiro festival de teatro mais antigo do país vai realizar-se este ano na Quinta da Caverneira, em Águas Santas, Maia, com o apoio logístico da câmara local.
«Isto atrapalhou-nos completamente toda a actividade», disse José Leitão, salientando que a mudança de local provocou desistências, nomeadamente de uma companhia galega, e obrigou a reconfigurar os vários espectáculos para o novo local.
A Quinta da Caverneira é um espaço «muito bonito», com jardins e um palácio oitocentista recuperado, mas «é um mini Palácio de Cristal», pelo que não será possível atingir a afluência dos anos anteriores, que rondou os «cinco mil a 7.500 espectadores», realçou.
«Ao princípio, estivemos para não fazer o festival», referiu o director do Art'Imagem, acrescentando que o avançado estado de preparação do festival e a boa relação existente com a Câmara da Maia levaram a organização a transferir o local e adaptar o evento a um orçamento mais baixo, que ronda agora os 80 mil euros.
Para este orçamento, o Art'Imagem irá canalizar a totalidade dos 50 mil euros de apoio anual do Ministério da Cultura à companhia e terá de recorrer a empréstimos bancários para assegurar a maioria do restante.
O programa do festival, que vai decorrer de 25 de Abril a 03 de Maio, só será anunciado quinta-feira, mas José Leitão já adiantou hoje que estarão presentes companhias do Chile e de Itália, esta para apresentar uma peça baseada nos factos históricos das mães da Praça de Maio da ditadura argentina.
Os espectáculos vão decorrer num auditório com 100 lugares, ao ar livre e em duas tendas, uma das quais irá acolher em permanência a estreia do espectáculo de Renata Portas baseado na fábula sobre emigração «Animais Nocturnos», do espanhol Juan Mayorga.
Em 2010, o Fazer a Festa regressará ao Porto, garantiu José Leitão, mesmo que a câmara local volte a recusar o pedido de apoio financeiro, como aconteceu em 2006 e 2009.
(in_Diário Digital / Lusa 14/04/2009)
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