domingo, 26 de abril de 2009

Carta Aberta do Teatro Plástico













A propósito dos 35 anos do 25 de Abril

Pelo facto de o director artístico do Teatro Plástico (no decorrer de uma caricata e muito significativa saga para obter uma audiência) ter comunicado à secretária do actual ministro da Cultura que o referido ministro carecia de legitimidade e que partilhávamos da convicção generalizada da maioria dos agentes culturais portugueses de que este havia sido nomeado por engano em vez do seu homónimo António Pinto Ribeiro (ex director da Culturgest) o Teatro Plástico viu o seu contrato de apoio financeiro ser abrupta e ilegalmente suspenso numa tentativa capciosa de nos impedir de concorrer ao concurso de apoios directos à criação teatral.

Agora com a publicação dos resultados oficiais do referido concurso a tentativa materializa-se: ao fim de 13 anos de actividade contínua e de um percurso artístico independente e coerente que conta no seu historial com estreias nacionais, europeias e mundiais de alguns dos mais importantes dramaturgos contemporâneos o Teatro Plástico (a jovem companhia portuense com mais público e visibilidade e um trabalho transdisciplinar experimental e mesmo pioneiro no campo "site specific" que tem procurado novas formas e sentidos para o acto teatral na vida urbana contemporânea)vê-se oficialmente extinto pelo Ministério da Cultura, organismo que tem por função a defesa e fomento da arte e cultura em Portugal.

  
Esta decisão que será contestada judicialmente representa de facto o culminar de uma sucessão de ataques mais ou menos declarados que teve início após a ocupação do teatro municipal Rivoli e que visou eliminar uma estrutura politicamente incorrecta demasiado independente, crítica e incómoda e que ganhou demasiada notoriedade num país demasiado corrupto, conformista e medroso.

Temos regido a nossa actividade profissional e pública na crença de que aos artistas cabe o maior dos papéis sociais e a maior das responsabilidades na construção de um futuro mais justo e harmonioso e de que temos a obrigação moral e ética de ser os primeiros a propor e exigir mudanças que permitam que a função da Arte não seja apenas o comércio do ócio ou um mero enfeite público. Não acreditamos em artistas de funcionalismo público e não aceitamos que o financiamento oficial sirva para premiar os mais submissos e servis e que a corrupção, o clientelismo e a cultura de lóbi que enfermam a sociedade portuguesa sejam reproduzidos pelos organismos culturais. E não temos também qualquer dúvida de que o que agora nos está a acontecer (e que nós e vários agentes culturais tínhamos já publicamente previsto) ilustra exemplarmente a antiquíssima tradição portuguesa de subalternização e controlo do Teatro e de tentativa de eliminação dos agentes teatrais mais incómodos, tradição essa que se explica à luz de um longuíssimo historial de totalitarismo político e consequentemente da ausência de uma verdadeira cultura democrática e de liberdade individual em Portugal.

É por isso importante que, no momento em que se celebram 35 anos de "democracia" e a palavra liberdade vai estar na boca de todos, se tenha consciência da real qualidade da nossa democracia e de como, sob a capa da legitimidade eleitoral, se continuam a cometer quotidianamente os mais graves atentados aos direitos e liberdades dos cidadãos.

Teatro Plástico

(in_blog_quarta parede 25/04/2009)


2 comentários:

  1. O Ministro merece, antes que se embora, um verdadeiro banho de multidão. Um vexame público. Cartas abertas não chegam ao céu (e os tribunais enfim). Andamos todos a dormir. A politica do Ministro é uma simples operação de divisão. E muito cuidadinho com as vacas sagradas. Nunca houve tantos Júlio Dantas. Há ainda fôlego para um prostesto? Uma simples tarte na cara já era alguma coisa. Há ou não há cultura?

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