segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Pen Club em guerra














Rui Costa quer presidir à organização de escritores para acabar com "sistema de poder psicótico"

O P.E.N. Português vive dias agitados. O acto eleitoral de 3 de Março está a ser marcado por acusações duras de ambas as candidaturas, com Rui Costa a denunciar a "falta de democraticidade" no seio da instituição presidida por Casimiro de Brito (na foto).

É a primeira vez nos 30 anos de existência da delegação portuguesa do P.E.N. Clube - a maior organização de escritores do Mundo, com 100 mil associados em 140 países - que duas listas se apresentam perante os 180 associados, mas o relacionamento agreste entre os candidatos está longe de traduzir a vitalidade que a existência de alternativas poderia indiciar.

Rui Costa, candidato à presidência, acusa os seus oponentes de apenas terem facultado o acesso à base de dados dos associados três semanas depois do pedido inicial e deixa no ar uma possível impugnação das eleições "se for provada a recente admissão de sócios, o que contraria os estatutos". Por isso, não tem dúvidas em considerar que "os actuais dirigentes encaram com terror e desconfiança o aparecimento de uma lista adversária".

"Devolver o clube aos sócios" e acabar com "o poder fechado e psicótico" dos actuais corpos gerentes são algumas das ideias-chave da sua candidatura, que, em poucas semanas, afirma ter conseguido reunir uma lista de 50 associados, entre os quais Eduardo Lourenço, Vasco Graça Moura, Maria Alzira Seixo, Manuel António Pina, Nuno Júdice ou Fernando Pinto do Amaral.

Rui Lage é um dos apoiantes da lista, disposto a terminar com "o embaraço e a vergonha que o actual P.E.N. representa para os sócios". "Há imensas actividades que poderiam ser desenvolvidas, desde a divulgação de autores portugueses no estrangeiro à vinda de escritores internacionais a Portugal, como acontecia quando Almeida Faria era presidente", concretiza.

Para voltar a incluir os sócios no dia-a-dia da associação, a lista alternativa elege como medida urgente a criação de um órgão que debata sugestões enviadas por correio-electrónico, carta ou telefone. "Há um alheamento progressivo dos sócios devido à falta de transparência e democraticidade", observa.

Na mente dos promotores desta lista, está também o fim da "lógica clubista" do P.E.N., segundo a qual os novos associados apenas podem entrar por convite dos actuais directores. "Se um autor quiser apresentar a candidatura a sócio, nada deveria proibi-lo", defende Rui Costa.

A centralização na figura de Casimiro de Brito das frequentes viagens ao estrangeiro - resultantes de convites de outras delegações do P.E.N. Clube - merece ainda a reprovação da lista rival, bem como o facto de as actuais instalações do P.E.N. Clube estarem sediadas em casa do presidente. Exemplos, segundo o autor de "A resistência dos materiais", de "relações de proximidade excessiva que deturpam o funcionamento aberto da associação".

Além do intercâmbio cultural, promoção de traduções e a criação de uma plataforma digital, a lista encabeçada por Rui Costa quer que o P.E.N. Clube Português regularize as suas atitudes processuais, pelo que pretende apresentar e divulgar relatórios pormenorizados das contas no final de cada ano, algo que, assegura, não tem acontecido.

Se o objectivo inicial da candidatura passava por "promover o debate e alertar os associados para a gravidade da situação do P.E.N.", o elevado volume de apoios angariados faz com que Rui Costa acredite numa vitória: "Mesmo com as dificuldades que têm sido levantadas à candidatura, acredito que o desejo de renovação acabará por falar mais alto".
(in JN/Lusa 16/02/2009)

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