domingo, 22 de fevereiro de 2009

Painel de Almada Negreiros parcialmente destruído

Azulejos de moradia dos anos 50, no Restelo, foram alvo de tentativa de remoção pelo antigo proprietário

Um dos painéis de azulejos da autoria de Almada Negreiros, presentes na fachada de uma casa de habitação na zona do Restelo, em Lisboa, projectada por António Varela nos anos 50, ficou parcialmente destruído depois de alguns operários terem tentado, ontem à tarde, a remoção total da obra. Só ao princípio da noite a Polícia Municipal, chamada ao local pelo filho do artista, o arquitecto Almada Negreiros, embargou a remoção dos painéis, que terá sido ordenada pelo antigo proprietário da moradia.

A arquitecta Ana Tostões, que incluiu estes painéis na sua obra Os Verdes Anos da Arquitectura Portuguesa, sublinhou que este conjunto "é mesmo especial", uma vez que antecipa alguns dos trabalhos mais importantes do pintor. "São os primeiros painéis em que ele está a trabalhar na especulação do número e irá aproveitá-la no painel que está na entrada da [Fundação] Gulbenkian", explicou, lamentando a destruição gradual da casa.

Os painéis de Almada e a construção desenhada por Varela estão classificados no Inventário Municipal do Património e referenciados no levantamento nacional da arquitectura do século XX, feito pela Ordem dos Arquitectos (OA). Mas estes dispositivos de protecção não foram suficientes para evitar o que aconteceu ontem à tarde. João Rodeia, presidente da OA, que esteve no local, notou que "o património mais importante do século XX não está devidamente classificado", argumentando, porém, que "isto não é antinatural porque tem de se deixar passar algum tempo".

A tentativa de remoção dos painéis terá sido ordenada pelo antigo proprietário da moradia. Ontem à tarde ainda estava disponível na Internet, no portal da Sapo, o anúncio da venda da casa, por dois milhões de euros, fazendo-se especial referência ao "painel de azulejos únicos de Almada Negreiros". Contudo, a construção, uma obra modelar da arquitectura moderna, foi já vendida e terá ficado estipulado na escritura que o vendedor teria direito a ficar com os painéis de azulejos. Entretanto, deu entrada na Câmara de Lisboa um pedido de demolição da casa, apresentado pelo novo proprietário.

Indignada com a profanação dos azulejos, a vereadora Helena Roseta lembrou que não houve qualquer pedido de licença para adulterar a fachada da habitação. E avançou que iria pedir um agendamento de urgência ao presidente António Costa para que a moradia seja classificada como Imóvel de Interesse Municipal. Este pedido consta, aliás, de uma proposta que o movimento apresentou anteontem (para agendamento) e que inclui a ideia de procurar um modelo de financiamento partilhado para adquirir a moradia e transformá-la numa "casa-museu-atelier de artes plásticas".
(in_Público 22/02/2009)

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